O Maracatu e a prática pedagógica
O Maracatu e a prática pedagógica
Janaína Melques e Soraia Melo
O contato e o desejo de conhecer as bases da cultura popular brasileira, bem como as formas do povo manifestar-se foram aspectos norteadores para minha opção de buscar no ciclo de estudos sobre cultura brasileira e Maracatu fundamentos capazes de colaborar com a relação estabelecida entre a manifestação e o currículo do educador de Educação Física.
O ciclo de estudos acontece com um pequeno grupo, diversificado em sua formação e objetivos, onde é possível verificar que cada um estabelece diferentes relações com o maracatu, na busca por identidade e apropriação da manifestação.
Acompanhada do questionamento: qual a relação do maracatu com o currículo de Educação Física tenho me dedicado ao longo dos encontros realizados às terças-feiras, no ciclo de estudos que conta com a mediação da jornalista Soraia Melo e obtido algumas respostas e muitas perguntas no intuito de relacionar a cultura popular com o currículo escolar, valorizando as vivências e criticidade no cotidiano educacional.
Para pensar a relação entre as duas linguagens citadas e transpô-la para o âmbito educacional é válido lembrar Tomaz Tadeu da Silva, pois ele considera a questão central do entendimento sobre o currículo é pensar sobre qual conhecimento deve ser ensinado, qual conhecimento é importante ou válido.
Tradicionalmente, a educação física traz em sua historia um currículo, um caminho que persegue melhorias e/ou instauração de uma vida significativamente ativa, fazem parte desse currículo os conhecimentos científicos das ciências biológicas e saúde, e os relacionados a modalidades esportivas, com o discurso de obterem diversos benefícios e aprendizados para a formação do ser humano.
Sendo assim, o currículo tradicional da educação física como de qualquer outro componente curricular da escola é ensinado com o argumento de que os conhecimentos selecionados são neutros, científicos e desinteressados, inquestionáveis. No entanto, as representações hegemônicas de mundo são as legitimadas no cotidiano escolar.
Com o intuito de inverter esse quadro que desvaloriza a diversidade do povo brasileiro nas relações estabelecidas entre fé, manifestações e costumes, a educação física na perspectiva cultural busca criar conexões entre o conhecimento popular e as manifestações de origem afro-brasileira, como a capoeira, o maracatu, o jongo e o coco que com muita dificuldade são inseridas no currículo escolar.
Dessa forma, o maracatu, com toda sua representação, dinâmica e processos podem fazer parte das discussões e vivências escolares, para serem valorizadas, compreendidas, aprofundadas, ampliadas e ressignificadas, mediante o diálogo com outras representações e manifestações, por isso, a cada encontro e discussão do ciclo novas possibilidades são fomentadas e aliadas à prática da sala de aula, colaborando diretamente com as particularidades de cada ator desta discussão, sejam os educadores que se propõem a compreender e inserir conceitos da cultura popular no cotidiano escolar e também aos batuqueiros que compõem o grupo Quiloa.