Cultura

O grupo Quiloa convida você a partilhar as fortes emoções emanadas pelos instrumentos de percussão típicos dessa dança tradicional repleta de cores, vibração e alegria. O ponto de encontro? A Virada Cultura 2010, em Santos

Por Flávia Souza

Começa a batucada. O som explosivo dos vários instrumentos de percussão invade o corpo. O tum tum produzido já não é mais dos tambores, aqui conhecidos como alfaias, mas do pulsar do sangue no coração. Chocalhos e grande variedade de instrumentos ditam o ritmo e a vontade de dançar vai crescendo. É quase impossível não se render às cores, aos encantos e ao agito contagiante do Quiloa, primeiro grupo de Maracatu da Baixada Santista.

Fundado em outubro de 2003, o Quiloa conta com mais de 30 integrantes. São homens e mulheres das mais variadas profissões e idades, que se unem para despertar a alegria e o encantamento de quem estiver por perto. Com seus instrumentos, músicas e danças difundem a cultura popular pernambucana: o maracatu do baque virado.

Além das já citadas alfaias, o ritmo também é ditado por caixas, ilús, taróis, agbês, gonguês e mineiros (espécie de chocalho, culturalmente tocado apenas por mulheres) que, acompanhado por canções tradicionais, as chamadas loas, e danças típicas, traz para a região um pouco dos costumes afro-brasileiros. E quando o Quiloa se apresenta em público, é certeza de conquistar novos adeptos e admiradores.

Ficou com vontade de sentir essa vibração de perto? Então aproveite a Virada Cultural 2010, no próximo dia 22 de maio, a partir das 22h00, no Corredor Cultural (esquina da rua XV de Novembro com a Rua do Comércio, no centro santista). O grupo lançará, na ocasião, seu primeiro DVD.

De origem centenária e perpetuada principalmente em Recife (Pernambuco), a manifestação simboliza, entre outras coisas, a coroação dos Reis do Congo, feita em forma de cortejo, da qual participam personagens da Corte Real, que dançam seguidos por uma orquestra de percussão, composta por batuqueiros e seus instrumentos.

Casa aberta

O grupo realiza cursos, no quais repassa aspectos da cultura e história do Maracatu, ensina a tocar os instrumentos, assim como as loas e danças. Tudo é passado naturalmente, de forma descontraída, e o ritmo é adquirido aos poucos durante as aulas e ensaios. No primeiro dia da Oficina Quiloa 2010, iniciada em 12 de abril nas dependências da cadeia velha de Santos, hoje conhecida como Oficina Cultural Pagu, na Praça dos Andradas, cerca de 60 pessoas se reuniram para aprender o Maracatu.

Orientados pelo músico Felipe Romano, fundador do Quiloa, os participantes foram apresentados à cultura, aos instrumentos e ao ritmo. Alguns tiveram a chance de pela primeira vez tocar um instrumento de percussão, saindo da aula inicial com gostinho de quero mais.

Esse é o caso da professora Lana Carolina Rios de Oliveira, 23 anos, que, na primeira aula, tocou o instrumento chamado mineiro junto com o grupo. “Eu já conhecia o Maracatu do Quiloa e gosto do ritmo que eles produzem, por isso quis fazer parte. Hoje toquei mineiro, mas quero mesmo é usar o atabaque. Não vejo a hora de ter a segunda aula para poder me aproximar desse instrumento”, diz.

O biólogo Caio Azevedo Marques, 30 anos, diz que o mais o atraiu no grupo é a cultura. “É uma tradição que tem muito a ver com a nossa cultura; e essa mistura que resulta num ritmo energético e diversificado é o que mais me chama a atenção. Quero participar disso, aprendendo, tocando junto”.

Em suas apresentações, cortejos e arrastões, o Quiloa canta e toca composições próprias e criadas por amigos de outros grupos paulistas e mestres da Nação Porto Rico e Encanto do Pina (grupos pernambucanos cuja origem remonta ao início do século passado), além de toadas das tradicionais nações de maracatu do Nordeste.

A dança, os trajes em cores fortes, e os bonecos gigantes, completam o quadro que não se limita a executar loas e ritmos entoados em Recife, mas preservá-los e difundi-los. Explica Felipe: “O nosso interesse é divulgar essa importante tradição brasileira, convidando a comunidade a se envolver nela”.

Tradição cultural
O Maracatu tradicional é uma manifestação da cultura urbana brasileira, de forte influência religiosa. Os escravos traficados da África, na tentativa de manter suas origens culturais e religiosas, realizavam cultos e cerimônias. Tornou-se símbolo de uma cultura popular de resistência afro-descendente, surgida no final do século XIX. Ainda hoje é uma manifestação que atribui à música, o principal veículo de comunicação da história oral brasileira.

Em Santos, o Quiloa difunde sua marca, sem envolvimento direto com religião. “Apesar de ter origem no candomblé, o maracatu que fazemos aqui não levanta qualquer bandeira religiosa. Ele é visto apenas como música e meio de difundir um pouco mais a cultura popular brasileira”, diz Felipe.

Serviço:

edição 95

O grupo ensaia às quartas-feiras, a partir das 19h30, na sede do Quiloa, na Rua General Câmara, 99, Centro, em Santos. Telefones: (13) 8133 3560 begin_of_the_skype_highlighting              (13) 8133 3560      end_of_the_skype_highlighting e (11) 8215 0414, ou pelo e-mail felipebatuca@hotmail.com. O site oficial do grupo é www.quiloa.maracatu.org.br